São jovens, bonitos e estão como querem, apressados por chegar à praia, em motas alugadas com as pranchas de surf penduradas. Os turistas. Contrastam bastante com os locais, até porque muitos ainda usam os seus trajes tradicionais. E, apesar do convívio pacífico e gentil, sempre que as cerimónias (que são tantas quanto os dias do ano) exigem, o trânsito é interrompido! As ondas lá terão de esperar e os surfistas aguardam pacientemente, aproveitando a pausa para sacar dos seus telemóveis e alimentar as redes sociais, enquanto os Balineses honram os seus deuses.
No que toca ao Instagram, não deve haver outro lugar no mundo tão fotogénico como Bali.
Texto e Fotos: Marta Gonzaga
A cultura balinesa atrai turistas como poucos lugares. E, para várias pessoas, a paixão acontece assim que saem do aeroporto. O que, contado, pode parecer estranho. Até porque o bafo de calor e a confusão de pessoas que nos “assaltam” tentando vender uma viagem de táxi é tão grande que racionalmente poderia ser de fugir. Mas dá-se o contrário. Muitos vão e resolvem ficar, outros estendem as férias e, claro, há sempre os que detestam. Estes últimos quase sempre porque não se entendem com o caos do trânsito em alguns dos percursos principais. E então, entre os estrangeiros criaram-se tribos. E são tão vincadas que há cartoons com as diferentes espécies que visitam Bali. Desde o turista de massas geralmente em Kuta, os yogis saudáveis de Ubud, ao hipster de Canggu, cada um na região que lhe pertence. São piadas que circulam nas redes sociais, e que divertem todos os visados.
Nas motas, em nuvens de trânsito que se movimentam com uma disciplina quase incompreensível para a falta de regras formais, passeiam-se todas as nacionalidades. E se a ilha era e ainda é maioritariamente habitada por Hindus, os números têm vindo a mudar com a chegada de novos habitantes vindos de Java e outras ilhas da Indonésia, em busca de trabalho. A estes acrescentam-se, de acordo com o Ministério do Turismo, os cerca de sete milhões de visitantes estrangeiros previstos para 2018. Este caldeirão multicultural não é de agora. Foi iniciado por migrações de pessoas e culturas de outras partes da Ásia ao longo dos séculos. Já os Europeus começaram a interessar-se pela ilha no século XVI. Durante um longo período manteve-se sob influência do colonialismo Holandês, mas a cultura balinesa persistiu e chegou mesmo a tornar-se uma referência de preservação, de modo que os tesouros culturais materiais e imateriais acabam por ser presenciados e vividos, até mesmo para quem só procura as ondas, o descanso absoluto, ou ainda para uma outra qualquer epifania espiritual.
A escolha de um programa é vastíssima. Pode optar-se pela natureza, cultura, gastronomia, desporto e, apesar de ser o oposto de um destino urbano, há ainda ofertas de grande luxo e sofisticação. Como não podia deixar de ser, uma vez que Bali não deixa de ser Ásia, onde o luxo é levado muito a sério. Assim como o bem-estar. E também nesta área se encontram excelentes ofertas, quer seja para relaxar, com vários tipos de massagens, ou programas de beleza e rejuvenescimento.
Alguns dos visitantes estrangeiros resolvem radicar-se permanentemente em Bali. E com isso trouxeram um pouco do resto do mundo, de maneira que há restaurantes para todos os gostos. Desde os típicos Warungs com comida tradicional e bastante económicos, pizzas e pastas italianas,pastelarias francesas, com requintados doces, restaurantes de grelhados com carne vinda da Austrália, comida Thai, entre tantos, tantos outros.
Mas há um género imbatível nesta ilha dos deuses. Mesmo para os mais aficionados carnívoros: os restaurantes Vegan ou Vegetarianos. Será mesmo o único lugar do mundo onde ficava mesmo feliz a comer um hambúrguer feito de folhas verdes e leguminosas. Nos warungs é de experimentar os pratos mais conhecidos como Ayam Betutu, Sate Lilit ou o Lawar Kuir. Fica o aviso para quem não tem muita resistência aos picantes: não adicione nada(!) porque o que lhe é servido já costuma vir com uma “generosa” dose usada durante a sua confecção. Na dúvida, pergunte sempre!
Imagine agora que tirou o dia para percorrer a ilha sem rumo. Visitar a “floresta dos Macacos” em Ubud ou visitar um dos inúmeros templos como Tanah Lot ou o templo de Uluwatu, só para nomear alguns, porque há muitos outros igualmente deslumbrantes. Ao longo do caminho e à beira da estrada, irá invariavelmente cruzar-se com alguma cerimónia, algum festival, ou mesmo uma cremação, uma cerimónia particularmente dispendiosa mas essencial, pelo que, na maioria das vezes, acabam por ser coletivas. Qualquer um destes rituais merece ser contemplado porque se tratam de momentos únicos, belíssimos e irrepetíveis.
Não adianta reclamar ou ficar impaciente quando encontrar o trânsito parado por causa das cerimónias, nós estamos só de passagem e os deuses que vivem na ilha são prioritários e precisam de ser alimentados porque alguns deles têm mau feitio e podem dificultar a vida aos locais. Se tiver oportunidade para tirar umas férias mais prolongadas, aproveite para visitar as ilhas em torno, como as Gili, um arquipélago de três ilhas, onde ainda se observam tartarugas gigantes. Festas de praia, muitos barcos a sair ao longo do dia para snorking, e, no caso da Gili Air, nenhum motor em terra! Só os burros e as bicicletas estão autorizados. Lombok, é uma outra ilha com praias absolutamente deslumbrantes, e com hábitos bastante diferentes. Com mais tempo, e se gosta de dragões, pense em visitar uns bem grandes, jurássicos mas bastante reais. As Flores, onde habitam os dragões de Komodo! De regresso a Bali mergulhe nos pitorescos locais onde se encontram os balineses: os espetáculos, as praias, os mercados e os festivais. Vale bem a pena. E completa, num círculo perfeito, a Viagem, na verdadeira acepção da palavra.