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Vale do Omo – Uma Terra Esquecida pelo Tempo

Vale do Omo – Uma Terra Esquecida pelo Tempo

Texto e fotos: Donnie Sexton

 

O meu fascínio por culturas diferentes levou-me a viajar até ao Vale do Omo, na Etiópia, que vai buscar o nome ao Rio Omo, o maior que na Etiópia encontramos fora da bacia do Nilo. A região é habitada por 16 grupos étnicos ou tribos distintas.

A Etiópia é um dos poucos países do Mundo que nunca foi colonizado., o que significa que as tribos do Vale do Omo, imunes a influências externas, mantêm um estilo de vida tradicional transmitido ao longo de séculos pelos seus antepassados. Cada tribo tem os seus próprios rituais, celebrações, aparências e tradições.

Explorar o Vale do Omo e ter a oportunidade de conhecer as tribos exige o recurso a um guia local. Nibret Adem, natural do Vale do Omo e proprietário da Hamerland Tours, possui um profundo conhecimento das tribos e uma excelente relação com elas, o que lhe permite proporcionar aos visitantes a observação do seu estilo de vida. Quando contactei Nibret para lhe manifestar o meu desejo de fotografar e conhecer as tribos do Vale do Omo, ele organizou um itinerário de seis dias para explorarmos e fotografarmos vários grupos distintos. Acordou-se previamente com as tribos um valor fixo para a fotografia, o que me permitiu vaguear e fotografar livremente. Com a ajuda de Nibret como intérprete, interagi com indivíduos e grupos na tentativa de documentar as vidas de algumas destas tribos.

 

A Caminho do Vale

Chegar ao Vale do Omo é uma jornada exigente. Primeiro viajei até Addis Abeba, a capital da Etiópia, onde me encontrei com Nibret. Depois seguiu-se um segundo voo num pequeno avião turboélice que nos levou até Jinka, o aeroporto mais próximo do Vale do Omo. De Jinka, fizemos uma viagem de duas horas por uma estrada alcatroada, mas bastante esburacada até à vila de Turmi, que serviu de base para explorarmos as tribos. Para minha surpresa e alegria, durante a viagem fomos saudados por jovens rapazes da tribo Banna que andavam em altíssimas andas e exibiam os corpos decorados com giz branco.

Todos os dias partíamos de Turmi e passávamos frequentemente duas horas a percorrer estradas de gravilha e terra batida para alcançarmos uma tribo. Viajávamos num Toyota Land Cruiser conduzido por um motorista experiente, o que dava a Nibret tempo de sobra para partilhar o seu vasto conhecimento sobre a terra e as suas gentes. A maioria das tribos são compostas por pastores que criam gado, ovelhas e cabras. Estes animais são fundamentais para a sobrevivência, fornecendo sangue, leite, carne e peles. O gado é especialmente valorizado e usado como a “riqueza da noiva” (dote), sendo entregue ao seu pai pela família do noivo. Algumas tribos vivem ao longo do Rio Omo, o que lhes permite cultivar sorgo, milho, feijão e abóboras. Afastadas do rio, as terras consistem em savana seca, árida e poeirenta. As populações tribais adaptaram-se e sobreviveram neste ambiente inóspito ao longo de séculos.

 

Os Mursi: Pratos labiais que poderão permanecer uma vida inteira

Cada dia trouxe-me momentos de admiração com as visitas às tribos, tão primitivas aos meus olhos. Encontrar um grupo no meio do nada, com cabanas simples feitas de paus, palha ou canas, fez-me sentir que me encontrava num lugar esquecido pelo tempo. A tribo mais rica da região, definida pelo número de cabeças de gado que possui, é a tribo Mursi. As mulheres desta tribo são conhecidas por usar grandes pratos de madeira ou argila no lábio inferior. Quando uma rapariga chega à puberdade, o lábio é cortado e esticado ao longo de um ano com pequenos discos de madeira. O prato labial simboliza fertilidade e aptidão para o casamento e, dependendo da vontade do marido, a mulher poderá ou não usar o prato ao longo da sua vida.

 

Os Hamar: O Salto ao Touro e as Mulheres Chicoteadas

As mulheres da tribo Hamar são facilmente reconhecidas. Cobrem o cabelo com uma mistura de manteiga e argila, formando tranças. Colares, pulseiras e cintos de missangas adornam os seus corpos. Um ritual único da tribo Hamar consiste na cerimónia de salto sobre os touros, na qual os rapazes assinalam a maioridade saltando por cima de uma fila de bovinos. Realizado o salto, o jovem fica qualificado para casar, possuir gado e ter filhos. Antes do início da cerimónia, as mulheres da família do jovem em questão exigem ser chicoteadas pelos jovens da tribo. Trata-se de um ato consensual e que permite às mulheres demonstrar força, respeito e amor pelos seus parentes. Tive a sorte de assistir ao salto dos touros e à flagelação das jovens antes do evento. Sempre que o chicote se cravava nas costas destas mulheres, agradecia aos céus por não ter nascido nesta tribo.

 

Dimmi: Uma Bênção Especial na Cultura Dassanech

O dimmi, uma bênção especial concedida às filhas primogénitas, constitui um importante ritual da tribo Dassanech. Quando as raparigas atingem idades entre os 8 e os 10 anos, constroem-se cabanas temporárias num local especial, trazendo-se cabras e gado para serem sacrificados durante as cerimónias que podem prolongar-se por vários meses. Testemunhei um ritual dimmi acompanhado por cânticos e entoações dos homens da tribo, que empunhavam longos paus e trajavam peles de animais. Os Dassanech têm quatro tipos de casamento: aqueles que são arranjados pelas famílias, os que são consensuais entre a noiva e o noivo, por rapto da noiva ou por herança, após a morte de um familiar.

 

Os Kara: Pintura Corporal e Comércio

O grupo étnico Kara habita perto do rio Omo, onde também pesca e utiliza a água para cultivar produtos hortícolas e cereais depois comercializados nos mercados semanais. Os homens Kara são conhecidos pelos elaborados padrões de pintura corporal feitos com pasta de giz branco. As raparigas e as mulheres também utilizam esta pasta para criar intricados desenhos nos rostos. Visitámos o mercado semanal de Turmi, onde membros das tribos Kara e Mursi estavam presentes para vender, trocar ou comprar produtos como vegetais, cereais, colares de missangas e cabaças.

 

Os Ari: A Tribo da Agricultura e Cerâmica

A única tribo do Vale do Omo que reside em habitações permanentes são os Ari, que representam a maior tribo da região. Produzem a maior parte dos bens agrícolas no Vale do Omo e são reconhecidos pelo fabrico de cerâmica. Muitos vestem roupas ocidentais e as crianças frequentam geralmente uma escola primária local. Na cultura Ari, os homens podem casar com quantas mulheres desejarem, desde que possam pagar o dote e suportar as despesas associadas à vida conjugal. Os Ari utilizam lanças para se proteger dos inimigos e têm enfrentado vários conflitos com a tribo vizinha dos Mursi.

 

Os Arbore: A Terra dos Touros

Visitei também a tribo Arbore. O nome Arbore deriva das palavras “Ar” (touro) e “Bore” (terra), significando “Terra dos Touros”. Este povo é pastoril, sustentando-se através da criação de gado, de ovelhas e de cabras, bem como através da agricultura. Em períodos de seca transportam os rebanhos para terras vizinhas em busca de alimento. Durante os rituais tribais, os Arbore cantam e dançam, acreditando que estas práticas eliminam energias negativas e favorecem a prosperidade da tribo. Os homens carregam frequentemente pequenos bancos de madeira esculpida e que usam tanto como assento, como apoio para a cabeça durante o sono.

 

Uma Imersão na Crueza Humana

Os meus seis dias no Vale do Omo revelaram-me uma visão autêntica, crua e sem filtros da humanidade. Observei várias formas de embelezamento corporal: cicatrizações, pinturas, piercings e pratos labiais. Vi mulheres com apenas um pano a cobrir-lhes o corpo e fios de missangas ao pescoço. Vi guerreiros armados com AK-47s usados em conflitos tribais. Presenciei jovens a perfurar uma vaca com um pau afiado, a ordenhar-lhe o sangue e a bebê-lo. Vi enxames de crianças a brincar com jogos simples, como às escondidas e à apanhada. O que não vi foram brinquedos — nem sequer uma bola.

Uma vida primitiva? Talvez, mas apenas segundo os meus padrões.

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