Este exótico país que fica situado na orla oriental do continente asiático e tem uma população de cerca de cento e dois milhões trezentos e cinquenta mil habitantes, é um arquipélago disperso por mais de 6000 ilhas de extraordinária beleza, sendo as de maior dimensão: Honshu, Hokaido, Kyushu e Shikoku.
Com a chegada dos portugueses em 1542-1543, o Japão e as suas preciosas mercadorias passaram a ser conhecidas pelo ocidente e a atrair cada vez mais aventureiros, que partiam, antes e agora, em busca do exotismo cultural e dos vários atrativos naturais, profusamente coloridos e inspiradores, presentes nas quatro distintas estações do ano.
Texto e fotos Anya Ana
Foi embuida por esse espírito de aventura que regressei ao Japão, à ilha de Honshu e à cidade de Tóquio, onde precisamente estava no dia 11 de Março de 2011. Data inesquecível para muitos dos que sobreviveram, incluindo eu, ao grande sismo com quase 9 graus de magnitude, seguido de tsunami, que fez cerca de 19.000 vítimas mortais na zona de Sendai a cerca de 300 quilómetros de Tóquio e que foi fortemente sentido na capital. Era primavera e o dia estava lindo e luminoso, o céu num tom de azul celeste, contrastava com o manto amarelo vivo das flores que atapetavam o jardim, nada fazendo prever semelhante desfecho.
Pela experiência que tive nessa ocasião, posso assegurar que o Japão, nas suas mais modernas cidades, como sejam Tóquio, Osaka e Kyoto, é um país muito seguro e preparado para fazer face a catástrofes naturais e que a hospitalidade genuína e carinhosa do seu povo, fazem deste destino um lugar inesquecível.
Por tudo isso eu tinha que voltar, e voltei em Outubro último. Tinha que ver o que não vi e rever, com redobrada emoção, o que já tinha visto.
Desta vez, iniciei a minha visita por Osaka, centro comercial do oeste do Japão, situado na foz do rio Yodo. A cidade é a terceira maior do Japão e tem uma rede de canais que se cruzam por baixo das suas movimentadas ruas. Osaka é uma linda cidade tradicional que integrou a sua arquitetura urbana moderna sem perder a identidade.
O Castelo de Osaka, o maior do Japão, construído em 1586 por Toyotomi Hideyoshi, é bem o exemplo dessa bem preservada identidade histórica, que convive harmoniozamente com um dos símbolos da modernidade – O Observatório do Jardim Suspenso, no topo do edifício Umeda Sky – de onde se tem uma magnífica panorâmica sobre a cidade.
Para perceber esta exótica cultura, nada melhor do que começar por um almoço com típicas iguarias da variada cozinha japonesa, como sejam o sushi, a tempura ou shabu-shabu, este último talvez menos conhecido no ocidente; são bifes macios, cortados em fatias finas, que se mergulham rapidamente em água fervida e em seguida, passam-se por um molho, antes de serem saboreados, podendo ser acompanhados com soba ou udon, duas qualidades de macarrão japonês e ainda, pela tradicional bebida local – o sakê.
Á distância de cerca de três dezenas de quilómetros fica Nara, bonita e tranquila cidade com encostas profusamente arborizadas de um colorido estonteante, onde pude apreciar os pontos de maior interesse, com especial relevo para o Templo Todaiji, o Parque de Nara, com os seus simpáticos veados ali residentes, habituados a interagir com os visitantes, que amiudadas vezes, não só lhes dão atenção como goluseimas que compram nas múltiplas tendas dispostas ao longo da entrada do parque e ainda, o colorido Santuário de Kasuga, um dos mais famosos santuários xintoístas no Japão.
Também Kyoto tem vários pontos de interesse a não perder. Rica em tradições e costumes que ainda hoje estão arreigados no quotidiano da sua população, foi fundada em 794 e teve por modelo a cidade chinesa de Shanghai. Está situada num vale rodeado por montanhas e é atravessada pelo rio Kamo. A sua mais esplendorosa atração é o Templo Kinkakuji, também conhecido por Pavilhão Dourado, cuja surpreeendente beleza se reflete nas águas calmas de um lago, rodeado por um luxuriante jardim, que, no outono, se veste de cores quentes que vão dos amarelos aos tons de vermelho das folhagens salpicadas de orvalho que cintilam aos primeiros raios de sol da manhã. Nada melhor descreve o seu esplendor que um trecho que cito de “O Templo do Pavilhão Dourado” do reconhecido autor Yukio Mishima, que dizia: …como um sacerdote budista do interior, meu pai, bastante pobre em vocabulário, costumava dizer-me que nada neste mundo é tão belo como o Kinkakuji… e assim é, este elegante palácio de três andares, todo coberto por folha de ouro, encimado por uma fénix de bronze. O Templo Ryoanji e o Castelo de Nijo, famoso pelos ornamentos interiores e pavimentos rouxinol, que ao serem pisados, emitem sons semelhantes ao piar daquelas aves, servindo de aviso à chegada de possíveis intrusos, são outras das atrações a não perder. Ao cair da noite, visitei o bairro Gion, á procura de gueichas, cujo exotismo me agradaria fotografar, mau grado, não as tive à merce da minha objetiva, ávida por captar as suas imagens de tez branca, elegantes e serenas, movendo-se delicadamente como que a flutuar, envoltas em kimonos de seda coloridos, ricamente bordados, de cabelos e faces artisticamente decorados.
O Japão tem um dos sistemas de transportes mais desenvolvido do mundo, e as viagens entre cidades, mesmo à distância de 300 ou 400 quilómetros entre si, são muito cómodas e rápidas. Assim foi na manhã do dia seguinte. Bem cedo, parti de Kyoto para visitar Hiroshima, no pontualíssimo Shinkansen, ou “trem-bala”, um trajeto de 362 quilómetros para cada lado, que fiz em menos de 2 horas por viagem.
Hiroshima é lembrada por todos nós, mas não pelas melhores razões, já que foi ali lançada a primeira bomba atómica durante a II Guerra Mundial. Grande parte desta bonita e moderna cidade é hoje dedicada a imortalizar a memória dos que ali pereceram durante e após o dramático acontecimento, ainda muito vivo na lembrança das gerações mais maduras. Impossível foi não me deixar comover ao visitar o Parque e Museu Memorial da Paz, onde a história é contada ao visitante através da exibição de fotografias da época e objetos e roupas das vítimas. A tarde foi dedicada à visita do Santuário Itsukushima, local de extrema beleza natural, situado na Ilha Miyajima, que fica a dez minutos de barco. Os edifícios de madeira que compõem o Santuário, estão ligados entre si por corredores que se estendem sobre a água, dando a ideia da estrutura inteira estar a flutuar sobre o mar, quando há maré alta. O símbolo do Santuário, é o portão torii, executado em madeira de cânfora vermelha saindo do mar.
Ansiava pela chegada do dia seguinte, que estava destinado a visitar um dos mais conhecidos e emblemáticos símbolos turísticos do Japão – O Monte Fuji na sua elegante estética cónica de 3.776 metros de altura, reproduzido em milhões de fotos, coroado de neves eternas. O passeio incluiu um agradável cruzeiro no Lago Ashi e a subida em teleférico ao Monte Komagatake, de onde apenas vislumbrei o Monte Fuji em imagem difusa, devido a estar coberto de neblina.
Mas a experiência da viagem não seria completamente conseguida se não vivenciasse a passagem de uma noite, num alojamento tradicional japonês, denominado Ryokan Senkyoro, situado na montanha em Hakone, junto a uma fonte de águas termais, também conhecida como Onsen. Na montanha faz mais frio e nada é mais relaxante que imergir num banho quente e relaxante, onde amigos ou parceiros de viagem dão asas à tagarelice.
O alojamento tradicional é geralmente composto por um aposento grande, cujo pavimento é forrado por tatami de palha de arroz prensada, decorado apenas com uma mesa baixa e duas cadeiras – sem pernas. As portas são telas shoji deslizantes e os hóspedes dormem em futon – espécie de colchão que é entendido no chão à noite pelos empregados.
Para entrar no espírito e beneficiar da experiência, é preciso observar algumas regras, assim, depois do banho termal, descalcei-me antes de entrar no meu aposento e enverguei a vestimenta típica fornecida pelo estabelecimento, que é um robe de algodão com estampas em azul e branco, chamado yukata e dirigi-me para a sala de mesas e cadeiras rentes ao chão, onde iria ser-me servido kaiseki- Ryouri, a mais exótica e requintada culinária do Japão, que inclui vegetais, peixe, algas marinhas e cogumelos como condimentos básicos, acompanhado de um bom saquê, tudo servido por senhoras envergando os tradicionais kimonos, a quem ía dirigindo as curtas frases que aprendi, consoante a circunstância, acompanhada de uma discreta vénia: arigato para obrigado e do-zo para por favor. Mas ainda faltava, como se usa dizer, a cereja no topo do bolo; uma massagem que iria ser executada por sábias mãos japonesas.
Serena e relaxada, com a yukata vestida, deitei-me no futon e enquanto era massajada ouvia o murmúrio do regato de água a correr alegremente junto à janela, ficando cada vez mais longe…longe e sentindo-me leve, leve como uma pena… e assim adormeci!