Esta é a expressão mais utilizada pela grande maioria das pessoas quando se fala em “Transiberiano”.
Filmes como “O Expresso do Oriente” entre outros do mesmo género, deixaram no imaginário de quem o viu, uma imagem de luxo, de paisagens deslumbrantes e de experiências inesqueciveis.
Não andarão longe da verdade.
Texto e fotos Vasco Casquilho
Moscovo – Excelente início de viagem
Chegados a Moscovo, onde tem início esta aventura, somos agraciados com uma estadia num hotel de cinco estrelas da cadeia Kempinski. A mesma cadeia de hotéis que nos recebe sempre que pernoitamos fora do comboio.
Moscovo continua linda. As amplas e limpas avenidas transmitem-nos uma sensação de segurança. Na verdade, tudo nesta capital impressiona. Desde a história que exuda de cada poro, cada esquina e cada estátua, à beleza das suas gentes.
A Praça Vermelha é um deslumbramento. Chegamos através da ponte que atravessa o Rio Moskva e de repente lá está ela: imponente, colorida, e com um cheiro de história mundial que se nos entranha e arrepia.
A Catedral de São Basílio é sem dúvida o ex-libris deste mítico espaço.
Dentro do Kremlin (“muralhas” em russo), visitamos ainda a Praça da Catedral, grande símbolo dos Tzars Russos e onde tiveram lugar alguns eventos políticos e religiosos.
O regresso à Praça Vermelha à noite revelou-se mais um deslumbre: a praça ilumidada consegue ser ainda mais incrível.
No segundo dia, entre outros pontos de interesse, visitámos algumas das mais bonitas estações de metro da cidade, também elas cheias de significados míticos, obras de arte e design apurado. Uma das mais bonitas é a Estação de Mayakovskaya onde se vêem imponentes colunas de aço em estilo Art Deco e mosaicos relatando façanhas russas a decorar os tectos. A estação Ploshchad Revolutsii é outro destino a visitar e exemplo do socialismo com estátuas a representarem os trabalhadores, atletas e soldados.
“All Aboard!!!”
Chegados ao final do segundo dia, somos apresentados ao famoso e mítico comboio, onde iremos passar os próximos 14 dias percorrendo os cerca de 5800kms que nos separam da cosmopolita Pequim, destino final do Transiberiano.
Somos recebidos por uma banda musical que de imediato contagia os viajantes e os motiva a dançar, antecipando a entrada na carruagem de cada um, onde travaremos conhecimento com as condições em que viajaremos e com os responsáveis de cada carruagem, também eles companheiros nesta aventura.
O comboio é composto por 23 carruagens, com várias categorias e obviamente, diferentes preços.
Ficamos alojados na segunda melhor categoria onde cada habitáculo (onde “vivem” duas pessoas) tem o seu próprio WC privado, enquanto o nosso tem de ser partilhado com o compartimento do lado. Cada cabine é composta por um sofá ao longo de todo o espaço que à noite se transforma em cama de casal, e um “bunker”, uma espécie de beliche que de dia está enbutido na parede lateral e à noite descai para dar lugar a uma confortável cama individual.Temos ainda direito a TV com DVD, rádio e um pequeno sofá assistido por uma mesa onde colocamos os livros, bebidas, e outros pertences mais utilizados e onde todos os dias nos renovam um cesto de fruta, vodka e chocolates. As deliciosas refeições agradam os mais exigentes, onde a comida tradicional se mistura com a dieta mediterrânea.
A primeira noite
Era grande a expectativa sobre o decorrer da primeira noite e sobre a qualidade do sono num comboio em andamento.
Não foi igualmente fácil (ou difícil) para todos. O som e o movimento revelaram-se incómodos como seria de esperar, mas ao segundo dia começámos a adaptar-nos e a partir daí foi até bastante tranquilo.
Kazan – Catedrais e Mesquitas
Chegámos à primeira paragem – a Cidade de Kazan.
Cidade com grande dimensão (chamam-lhe a terceira capital da Russia) banhada pelo Rio Volga, que possui uma notória mistura de culturas e religiões, onde predominam a Muçulmana e a Cristã.
Impressionante foi a visita ao Kremlin de Kazan (Muralha de Kazan) onde pontifica a espantosa mesquita Kul-Sharif com as suas lindas cúpulas azuis. Verdadeiramente deslumbrantes.
Yekaterinburgo – Onde a Europa e a Ásia se beijam
O próximo destino revela-nos mais uma cidade populada por mesquitas com belas cúpulas, e com a particularidade de dividir a Europa da Ásia, existindo mesmo um local muito visitado pelos turistas onde podemos colocar um pé em cada continente, a cerca de 17kms do centro da cidade.
Foi-nos oferecido um pequeno e interessante espectáculo de música do tempo dos cossacos, com os artistas vestidos a rigor.
Novosibirsk – Capital da Sibéria
Assim que saímos da estação somos recebidos com o tradicional pão com sal oferecido por um grupo de bailarinas locais que nos agraciam com danças tradicionais. Esta cidade modernista foi curiosamente fundada aquando da construção da linha do Transiberiano e revela excelentes infra-estruturas. É também conhecida por ser um importante centro científico.
Krasnoyarsk – Primeira supresa da viagem
A Lernedee, promotora do Zarengold, fez-nos a primeira surpresa ao incluir uma cidade extra no nosso itinerário, originalmente fora do programa.
Anton Chekhov disse outrora que esta era a mais bela cidade da Sibéria e depois de vermos a deliciosa paisagem urbana, podemos confirmar que não estava longe da verdade.
De facto, subindo até à Catedral Paraskeva Pyatnitsa, que em tempos antigos era utilizada para prevenir ataques, podemos usufruir de uma vista única sobre a cidade.
Esta catedral é curiosamente a imagem das notas de 10 rublos.
Irkutsk – Cidade das casas de madeira
Tempo para mais uma surpresa da Lernedee: Um belíssimo concerto privado de música clássica dentro de uma das tradicionais casas onde viviam os “Dezembristas” – (ficaram assim conhecidos por terem feito a primeira revolta Russa em Dezembro de 1825) de Irkutsk.
Sala decorada à época e onde pontificava o único piano vertical do mundo que ainda funciona.
Mas Irkutsk é sobretudo conhecida pelas suas casas de madeira e foi precisamente numa delas que, em visita a uma povoação, nos porporcionaram um almoço cozinhado pelos locais.
Seguimos em direcção ao Lago Baikal.
Lago Baikal – Banho e Picnic
O Lago Baikal é o maior (636kms), mais antigo (25 milhões de anos) e profundo lago de água doce do mundo. No seu ponto mais fundo, atinge os 1637m de profundidade.
E é neste lago que o nosso comboio se detém no final da tarde, perto de uma pequena praia com fácil acesso do comboio e onde somos desafiados para um banho….gelado.
Aliciados pelo prémio de um shot de vodka, dezenas de destemidos fazem-se à agua e tentam mais tarde adivinhar a temperatura, que seria assinalada num certificado oficial do “banho” que acabamos de tomar.
Dez graus era a gélida temperatura da água.
Após o banho foi-nos oferecido um magnifico picnic preparado pelos chefs do nosso Transiberiano e acompanhados por música tradicional tocada no local.
Foram excelentes momentos como este que tornaram esta, uma viagem inesquecível.
Ulan Ude – Última cidade na Rússia
É a primeira cidade que visitamos em que nos parece que chegámos realmente à Ásia. E já vamos com oito fusos horários de diferença de Portugal. Depois de percorrer cerca de 3000kms, chegamos à capital da Républica de Buriácia onde a maioria da população é budista.
Cidade calma, onde os habitantes têm um aspecto mais asiático que europeu, com olhos cor de amêndoa e maçãs do rosto mais afastadas do que o normal, típico dos Mongóis.
Mongólia e Ulan Batar
Depois de uma longa viagem em que atravessamos grande parte da Rússia, chegamos à fronteira Mongól, longe de sabermos que iríamos fazer, talvez, o mais bonito percurso de toda a viagem.
Depois de um par de horas parados na fronteira para os tramites legais, entramos num país com uma paisagem indescritível, que faz com que todas as janelas que se podem abrir dentro do comboio, estejam permanentemente ocupadas pelos passageiros a fotografar todo aquele esplendor.
Enormes planícies com os alpes mongóis como pano de fundo, povoadas por pequenos “iglús” com as chaminés a fumarem um lindo fumo branco – chamados “GER” –onde vivem os nómadas e grandes rebanhos a pastar no interminável verde.
Paramos em Ulan Batar, a capital da Mongólia e dirigimo-nos ao Terelj National Park, onde nos esperavam incríveis experiências como beber”Airag” – leite de égua acidificado e fermentado – assistir a demonstrações de equitação, luta mongól ou tiro com arco e flecha.
Tudo isto num cenário deslumbrante, num vale verde a cheirar a tranquilidade.
Para terminar em beleza, uma vez mais dormimos num hotel de cinco estrelas da cadeia Kempinski, onde sanitas têm mais botões que o nosso comando de TV!
China e Pequim
Difícil falar da capital da China sem falar da Grande Muralha, das “comidas estranhas” e da confusão provocada por 20 milhões de habitantes.
A Muralha – Uma das sete maravilhas do Mundo
Ainda que tenhamos visitado a muralha num dia de extremo calor e humidade, a maioria dos participantes nesta viagem não perdeu a oportunidade de perder dois quilos de peso (entretanto ganhos com as excelentes refeições no comboio) e aventurou-se muralha adentro. São centenas de degraus onde o cheiro a história é intenso, assim como o de suor, diga-se.
Consta que cerca de 400.000 pessoas trabalharam na única construção humana visível da lua e que demorou cerca de 2000 anos a ser construída, por ordem de 13 dinastias.
O principal objectivo desta muralha que, sabe-se agora, tem mais de 20.000kms de comprimento era ajudar na defesa contra os povos nómadas do norte.
O mercado das comidas exóticas
Tínhamos na nossa ideia desde o início, não nos acobardarmos quando chegássemos a Pequim e ao seu mercado mais conhecido: o mercado das comidas exóticas, onde podemos degustar umas “deliciosas” tarântulas, gafanhotos, escorpiões, lagartos, cobras e todo o tipo mais estranho de insectos e lesmas que possamos imaginar. E assim foi.
Cheios de coragem dirigimo-nos para a “Rua do Mercado Noturno”, ladeada por duas filas de “barraquinhas” extremamente limpas, com todos os funcionários vestidos de igual, num bonito vermelho vivo.
É um mercado fantástico, autêntico, onde todos os dias multidões de turistas se aventuram nalgum destes…petiscos.
As iguarias que cada um escolhe são mergulhadas num grande wok cheio de óleo e só depois entregues ao turista, sempre enfiadas num pequeno espeto. O nosso “menu do dia” foi precisamente escorpião, gafanhoto e tarântula.
Para os curiosos: escorpião e gafanhoto sabem a camarão com casca (o escorpião é ligeiramente melhor) e a tarântula é um pouco mais nojenta. Fiquemos por aqui.
E eis que de repente chegamos ao fim de uma longa viagem de 16 dias verdadeiramente inesquecíveis, percorrendo mais de 5800kms entre três países e dois continentes, num comboio onde cerca de 120 passageiros disfrutam de todas as mordomias necessárias para uma viagem tranquila e onde paisagens deslumbrantes como as Mongóis e experiências inesquecíveis como as do Lago Baikal ou as do acampamento Mongól nos relembram como é bom viajar.
Agradecimentos
Lernidee Trains & Cruises, promotora do Zarengold.