Se subirmos à Montanha dos Ursos (Medvednica) e aos seus cerca de 1036 metros de altitude, podemos num dia de boa visibilidade estender o olhar até à Eslovénia, à Hungria e à costa do Adriático.
Os locais gostam de afirmar que Zagreb se trata de uma cidade disfarçada de pequena vila e a verdade é que o ritmo descontraído e o encanto da capital da Croácia tomam conta de quem chega. Erguendo-se aos primeiros raios de sol, são estes mesmos habitantes que vemos a caminhar rumo aos mercados ao ar livre para se abastecerem junto dos seus vendedores preferidos de toda uma colorida panóplia de produtos. As frutas e os legumes, o pão de milho acabado de cozer e as fileiras de mel perfumado em grande parte provenientes das regiões rurais circundantes assaltam-nos o espírito, inebriando-o. Na praça principal, observamos uma outra cidadania. Designers, empresários, músicos, artistas e freiras aceleram o passo em direcção aos respectivos locais de trabalho. Nas esplanadas, não há hora para beber rakija (aguardente) ou kava (café) e a procura vai desde os jovens às idades mais avançadas, tornando-se evidente que o hábito está bem enraizado na população local. Ao início da noite são as famílias que preenchem as ruas em conversa com os vizinhos enquanto passeiam por todo um cenário absolutamente sedutor, ponto de encontro de diversas sensibilidades europeias e eventualmente um espelho da essência do velho continente.
Uma capital em constante florescimento
Localizada nos Alpes Dináricos, Zagreb dista duas horas de automóvel da costa do Adriático situando-se num panorama geográfico que lhe confere um carácter único, combinando ainda vibrações mediterrânicas com os climas continentais eslavos. Trata-se sobretudo de uma cidade de passagem obrigatória a quem se dirige às praias adriáticas e na qual rapidamente se descobre um modo de vida muitíssimo assente na socialização – veja-se a profusão de cafés sempre povoados pelos seus habitantes – e cujos hábitos acabam por instalar-se naqueles que por ali passeiam. A arquitectura de Zagreb é ecléctica, exibindo-se desde o Rio Sava até ao sopé dos Alpes nas suas versões secessionistas, neo-barrocas e góticas, predominando, no entanto, os parques, os jardins e as frondosas colinas. Graças à sua proximidade com a montanha de Medvednica (Montanha dos Ursos), é fácil sentir a sua ligação com a natureza local. Os espaços verdes não faltam ali, tal como a arte de rua, o design inovador e a sofisticação, o que contribui largamente para que a personalidade da cidade floresça constantemente. Um dos percursos aconselhados é, de resto, o da Ferradura Verde, que apropriadamente assim baptizada, contempla uma série de parques e praças no centro de Zagreb. Assume a forma de U constituindo um corredor verde verdadeiramente incrível que envolve a cidade baixa (Donji Grad) e que possibilita a observação dos eléctricos que vão passando, a chegada ao Hotel Esplanade Zagreb, aberto em 1925 como refúgio de passageiros do Expresso do Oriente e verdadeira joia arquitectónica e o mais icónico hotel da cidade onde poderemos apreciar a combinação do glamour da Arte Deco com o conforto da modernidade. Também neste percurso encontramos o Jardim Botânico, que acolhe dez mil espécies de plantas e um verdadeiro oásis de tranquilidade.
A arquitectura como guia
No centro, é obrigatória a visita à Rua Tkalčićeva, ou Tkalča, no passado dividida entre Kaptol e Gradec (que estão na origem da própria cidade) e verdadeiro cenário de artistas de rua, de pessoas a passear já depois de caída a noite, de compradores e de animados encontros sociais. É também aqui, no centro, que está situada a maioria dos monumentos, a pouca distância entre si. Foi aqui que no século XI foi fundada a Catedral da Assunção da Bem Aventurada Virgem Maria e que constitui a principal atracção de Zagreb. Famosa pelos pináculos de mais de cem metros de altura, foi fundada pelo bispado de Kaptol, datando de 1880 a catedral neogótica. Com 6100 tubos, o órgão impressiona dado o impacto que alcança. Merecerão também visita a Igreja de São Brás, a Igreja de São Francisco de Assis, a Igreja de São Marcos, um dos edifícios mais antigos de Zagreb e um dos símbolos da cidade. Foi construída no século XIII, mas é mencionada pela primeira vez em 1334. Ostenta um luxuoso portal sul gótico do século XV e forma um conjunto gótico único tendo sido construída sobre alicerces românicos e sendo encimada por um telhado cujos azulejos coloridos representam o brasão de armas de Zagreb e do histórico Reino da Croácia-Eslavónia. A arquitectura destaca-se ainda no edifício dos Arquivos Estatais da Croácia, o mais belo edifício da Secessão na Croácia, o Teatro Nacional, oficialmente inaugurado em 1895 e obra dos famosos arquitectos vienenses Ferdinand Fellner e Herman Helmer, que recorreram ao neobarroco. Outra obra-prima da arquitectura croata, o Pavilhão Meštrović foi originalmente utilizado como pavilhão de exposições, mas durante a Segunda Guerra Mundial foi transformado numa mesquita, tendo-lhe sido adicionados minaretes que viriam a ser desmantelados posteriormente. Acolhe actualmente a Associação de Artistas Croatas. No Palácio de HAZU, o único de Zagreb e de estilo neo-renascentista, encontramos a Academia Croata das Artes e das Ciências.
Onde o charme do passado se relaciona com a arte da modernidade
Gradec, a cidade alta de Zagreb – localizada no topo da colina – representa juntamente com Kaptol o espírito medieval da zona antiga de Zagreb e que perdura à medida que se percorre o emaranhado de ruas calcetadas e onde os candeeiros a gás ainda são acesos à mão todas as noites, revelando-se assim um teimoso romantismo local. É com imenso charme que, todas as noites, dois funcionários acendem um a um os 200 lampiões desta parte da cidade onde todos apreciam o strukli, um pastel recheado com queijo cottage e natas originário da Eslovénia. Em casa aposta-se confecção do largamente apreciado cuspajz, um guisado de carne e legumes. Tal como em qualquer outro país dos Balcãs, é claro que o Ćevapi (carne picada grelhada) é muitíssimo fácil de encontrar Zagreb, a cidade que ao sábado acorda bem cedo para exercitar o músculo coletivo da moda e espreguiçar-se nos cafés do centro para ver e ser vista. A este desfile de fim-de-semana dá-se o nome de špica, que pede as melhores roupas, chama até à Ilica e depois conduz ao Eli’s Caffe para um dos melhores cafés da cidade.
Tempo ainda para visitar os museus e as galerias. O Museu de Arte Contemporânea, a sul do rio, constitui uma celebração das instalações multimédia, da imaginação e do comentário social através de uma coleção de 12 mil obras. O Museu da Cidade de Zagreb, situado no antigo Convento das Clarissas, do século XVII, explora a história da cidade desde a pré-história, enquanto o vizinho Museu das Relações Terminadas exibe objectos dolorosos, doces e humorísticos doados na sequência de romances falhados. O Túnel Gric, medida de proteção construída durante a Segunda Guerra Mundial, passa por baixo do centro da cidade e serve como um local de arte ocasional. O Funicular de Zagreb, que liga as Cidades Alta e Baixa, e a Torre Lotrščak, com o seu canhão Grič, que é disparado diariamente ao meio-dia, representam ainda símbolos incontornáveis desta cidade de verões quentes, Invernos frios e que muitos acusam como a nona mais chuvosa da Europa. Capital e centro cultural e artístico da Croácia, Zagreb não vibra apenas no Inverno, com a chegada do advento, ou em Março, com o Festival das Luzes. Em Junho, o famoso Festival InMusic atrai ao Lago Jarun mais de cem mil entusiastas da música. E que tal reservar já um voo e partir a correr?