A dinastia Hung foi a primeira do Vietname e por isso é encarada como fundadora da nação vietnamita. Os seus governantes tatuavam crocodilos nas pernas para capturarem a coragem daqueles animais selvagens e como amuletos para afastar os outros. Durante séculos, os chineses referiram-se ao Vietname como “a terra dos homens-crocodilo”. A Travel & Safaris visitou os lugares e monumentos que ali hoje se encontram sob protecção da UNESCO.
Localizado na costa oriental da Península da Indochina sobre o Golfo de Tonkin e o Mar da China, o Vietname faz fronteira com a China, o Laos, o Cambodja e o Golfo da Tailândia, numa estreita faixa que se estende de norte a sul e onde predominam as florestas tropicais e a paisagem é absolutamente deslumbrante. Na fronteira ocidental com o Laos e com o nordeste do Cambodja ergue-se a Cordilheira Anamita, que ascende até aos dois mil metros de altitude e é também no seu território que o lendário Rio Vermelho encontra morada, tal como o Mekong, que atravessa a maior cidade do país, Ho Chi Min ou a antiga Saigão. Um dos mais ricos territórios do mundo em biodiversidade, que inclui 11.400 espécies de plantas vasculares, 310 espécies de mamíferos, 162 de anfíbios, 700 espécies de peixes de água doce e duas mil de peixes marinhos e ainda 889 espécies de aves, é, no entanto, um país onde a vida selvagem se encontra seriamente ameaçada, ocupando o 16º lugar entre 152 países estudados com espécies em perigo graças à caça ilegal, ao tráfico de espécies e à destruição do habitat.
Um passado escuro e doloroso
Com uma história longa e negra e um passado agitado marcado pela presença do domínio chinês, por períodos de independência dinástica, pela chegada de ocidentais (liderados pelos portugueses), pela conquista francesa, a libertação nacional, a invasão japonesa aquando da Segunda Guerra Mundial, a cisão entre o norte e sul, a Guerra do Vietname e a reunificação, já na década de 70 do século XX, o Vietname abraça principalmente as religiões budista, taoista e confucionista. A inesquecível e dolorosa guerra que lhe está associada, a Guerra do Vietname, e que ilustra bem a capacidade de resistência do povo originário desta região, faria esperar um outro tipo de povo e não a amabilidade, a doçura e a paz com que hoje recebe quem chega. Tranquilo, resiliente, industrioso e trabalhador, harmoniza-se com a paisagem suave de rios de nome poético, como Rio do Perfume, dos pitorescos mercados flutuantes, das brumas matinais que encerram as ilhotas das ilhotas da Baía de Halong, dos infindáveis arrozais de um verde intenso que, de socalco em socalco, surgem a desenhar relevos na terra.
Constituindo ainda um ponto do globo que mantém uma profunda ligação à cultura original, o Vietname conta com diversos pontos do seu território que foram classificados pela UNESCO como Património Mundial e a Travel & Safaris visitou-os a todos, prestando também homenagem ao seu povo, que descende de um dos povos mongólicos que há mais de dois mil anos habitavam a região do sul da China e o norte deste mesmo país, enquanto no sul habitavam os povos Cham e Khmer.
Sector Central da Cidade Imperial de Thang Long.
Localizada no coração de Hanói, esta cidade imperial começou por representar a residência real da Dinastia Ly em 1010, que a mandou construir para assinalar a independência do seu território, tendo sido erguida sobre os restos de uma fortaleza do século VII em terrenos drenados que se recuperaram do delta do Rio Vermelho. Representou o centro do poder político regional durante 13 séculos e reflecte uma cultura única do sudeste asiático. Acrescentada à lista de Património Mundial da Humanidade em 2010, assiste ainda a escavações arqueológicas que já revelaram vestígios de antigos palácios, pavilhões grandiosos e portões imperiais. O portão principal (Doan Mon) assumiu o nome de um dos portões da Cidade Proibida de Pequim e acredita-se que o Pagode da Princesa (Hau Hau) terá provavelmente albergado as concubinas imperais. Aquando da Guerra do Vietname, foram aqui instaladas casamatas do comando militar do Exército Popular, que se mantêm até aos dias de hoje e onde encontramos mapas e equipamentos de comunicação que o General Vo Nguyen Giáp terá usado.
Baía de Halong
Em português significa “o dragão que desce”, aludindo à lenda que explica a formação desta área de cerca de 1500 quilómetros quadrados onde, há cerca de 500 milhões de anos, se erguem quase duas mil ilhotas, na sua maioria de calcário e cobertas de uma exuberante vegetação. De acordo com ela, quando o Vietname começou a estabelecer-se como país tornou-se necessário combater os invasores e os deuses decidiram proteger o seu povo enviando-lhe uma família de dragões que desceram dos céus e cuspiram joias e jade que rapidamente se transformaram nas ilhas e ilhéus que ainda hoje ali se encontram e que formaram uma grande muralha protegendo a baía dos invasores. A Baía de Halong foi classificada pela UNESCO como Património Mundial em 1994, reconhecendo-se o seu valor estético universal excepcional e o seu extraordinário valor geológico e geomórfico foi também reconhecido pela mesma entidade em 2000. Com sete espécies endémicas, coexistem ali um ecossistema de floresta tropical húmida e um ecossistema marinho e costeiro, sendo que graças ao aumento do comércio turístico os mangais e as pradarias de ervas marinhas ficaram comprometidos em virtude da construção de molhes e cais para as embarcações. Também a pesca desportiva tem vindo a ameaçar várias espécies piscícolas, agora em perigo de extinção.
Complexo de Paisagens Tràng Na
A sete quilómetros de Ninh Bình e perto da margem sul do delta do Rio Vermelho, o Complexo Paisagístico de Tràng An constitui uma espetacular paisagem de picos cársicos de calcário permeados por vales, muitos deles parcialmente submersos e rodeados por falésias íngremes e quase verticais. A exploração de grutas a diferentes altitudes revelou vestígios arqueológicos da atividade humana durante um período contínuo de mais de trinta mil anos. Estes vestígios ilustram a ocupação destas montanhas por caçadores-recolectores sazonais e a forma como se adaptaram às grandes alterações climáticas e ambientais, especialmente a inundação repetida da paisagem pelo mar após a última idade do gelo. A história da ocupação humana continua através do Neolítico e da Idade do Bronze até à era histórica. Hoa Lu, a antiga capital do Vietname, foi estrategicamente estabelecida aqui nos séculos X e XI d.C. Ao longo do Rio Sao Khe, os barcos a remos deslizam passando por grutas de calcário, sendo possível visitá-las bem como aos templos ali localizados.
Cidadela da Dinastia Hò
Trata-se de uma fortaleza de pedra do século XV situada em Thanh Hóa e serviu como capital ocidental da Dinastia Hò (1398-1407), tendo também representado um importante centro político, económico e cultural entre os séculos XVI e XVIII. Construída em 1397, integrava uma cidadela interior de pedra calcária, a muralha exterior de La Thanh e um altar de 155 hectares. A conceção e a decoração dos elementos arquitectónicos em termos de gestão do espaço destinavam-se a exibir uma cidade imperial centralizada, governada pelo poder real e baseada no confucionismo harmonizado com uma cultura budista. A construção do castelo terá seguido os princípios do Feng Shui. Inscrita no Património Mundial da UNESCO a 27 de Junho de 2011, testemunha o florescimento do neo-confucionismo no Vietname de finais do século XIV e a sua difusão noutras regiões da Ásia Oriental. De acordo com estes princípios, a cidadela foi implantada numa paisagem de grande beleza cénica, num eixo que une as montanhas Tuong Son e Don Son, numa planície entre os rios Ma e Buoi. Os edifícios da cidadela constituem um exemplo notável de um novo estilo de cidade imperial do Sudeste Asiático.
Parque Nacional de Phong Nha-Ke Bang
A cerca de 450 quilómetros a sul de Hanói e a 50 a norte de Dong Hoi, o Parque Nacional de Phong Nha-Ke Bang foi reconhecido em 2003 como Património Mundial pela UNESCO em virtude de apresentar um impressionante número de testemunhos da história do nosso planeta e por se situar num ponto de importância considerável para o aprofundamento de conhecimentos da história geológica, geomorfológica e geocronológica da região. Estendendo-se até à fronteira com o Laos, e integrando aproximadamente 65 quilómetros de cavernas e rios subterrâneos, esconde a maior caverna do mundo (200 metros x 150 metros e 6 km de comprimento), descoberta por investigadores britânicos em 2019 e baptizada como Hang Son Doong. Até agora foram identificadas no parque cerca de 20 cavidades.
Complexo de Monumentos Históricos de Hué
Fundada como capital do Vietname unificado em 1802, Hué representou não apenas o centro político, mas também cultural e religioso da Dinastia Nguyen até 1945. O Rio Perfume atravessa a capital, a cidade imperial, a cidade púrpura proibida e a cidade interior, conferindo-lhe a um cenário de grande beleza natural. Situado na cidade de Hué e arredores, na província de Thua Thien-Hue, no centro geográfico do Vietname e com fácil acesso ao mar, o Complexo de Monumentos de Hué marca também a morada da última dinastia real da história vietnamita.
O projeto da nova capital foi estabelecido acordo com a antiga filosofia oriental, respeitando as condições físicas do local. A montanha de Ngu Binh (conhecida como o biombo real) e o Rio Perfume, que atravessa a cidade, conferem a esta capital feudal única um cenário de grande beleza natural e definem a sua importância simbólica. O local foi escolhido por uma combinação de características naturais – colinas que representam uma tela protetora em frente dos monumentos ou que assumem o papel de “um dragão azul” à esquerda e de “um tigre branco” à direita – que protegem o acesso principal e impedem a entrada de espíritos malévolos. Nesta paisagem, estão dispostos os principais elementos da cidade. As estruturas do Complexo de Monumentos de Hué foram cuidadosamente colocadas no cenário natural do local e alinhadas cosmologicamente com os Cinco Pontos Cardeais (centro, oeste, leste, norte, sul), os Cinco Elementos (terra, metal, madeira, água, fogo) e as Cinco Cores (amarelo, branco, azul, preto, vermelho).
Exemplo notável do planeamento e construção de uma capital completamente defendida num período relativamente curto, nos primeiros anos do século XIX, foi classificado como Património Mundial em 1993. A integridade do seu traçado e a conceção dos edifícios fazem dele um exemplar excecional do planeamento urbano feudal tardio na Ásia Oriental.
Hoi An
Do sino-vietnamita “lugar de encontro pacífico” e historicamente conhecida como Faifo, Hoi An está inscrita como Património Mundial da UNESCO desde 1999, nomeadamente a zona histórica da cidade, onde ficou preservado o exemplo de um porto comercial do Sudeste Asiático dos séculos XV a XIX e cujos edifícios e traçado das ruas reflectem a mistura de influências indígenas e estrangeiras e da qual é exemplo de destaque a “Ponte Japonesa”, datada dos séculos XVI e XVII. A simbolizar a paz e a amizade entre os habitantes locais e os japoneses, terá sido construída para estabelecer uma ligação comercial, sofrendo sucessivas alterações até aos dias de hoje.
Os portugueses terão ali chegado ainda na primeira metade do século XVI representando os primeiros ocidentais a ancorar naquelas margens. Os missionários jesuítas portugueses introduziram em 1616 a escrita romanizada que acabou por eliminar definitivamente a escrita ideográfica ainda vigente em todos os outros países do Sudeste Asiático. Gaspar do Amaral, Francisco de Pina e António Barbosa terão sido os responsáveis pela romanização da língua local e não Alexandre de Rhodes, o jesuíta de Avignon, como bem convinha a França para efeitos de afirmação cultural e difícil colonização que, verificou-se mais tarde, nem ali deixou semeada a língua que hoje já ninguém fala naquelas margens. Àquela época, na verdade era o português que se impunha da Índia ao Japão, o que não será difícil provar dada a presença de palavras de origem portuguesa em diversos idiomas asiáticos.
Apesar de preservar ainda muito do passado, a Hoi An de hoje não é a mesma, eventualmente em virtude do título atribuído em 1999, que ali atraiu um turismo desmedido de que Fernão Mendes Pinto jamais teria desconfiado na Cochinchina de então… Agora vibra e faz vibrar com o Festival das Lanternas, uma celebração de luz, cor e tradição realizada no 14º dia do mês lunar (este ano nas noites de 19 de Junho, 19 de Julho, 17 de Agosto, 16 de Setembro, 16 de Outubro, 14 de Novembro e 14 de Dezembro). Quando se inicia, o trânsito para e a cidade mergulha na escuridão, à medida que as luzes se apagam nas casas, nas lojas e nos restaurantes e nesta serenidade os habitantes adornam as suas varandas com um caleidoscópio de lanternas coloridas, lançando um brilho encantador que envolve todo o bairro em tons de vermelho, azul e amarelo. A tradição ter-se-á iniciado durante a movimentada era comercial dos séculos XVI e XVII, ao longo da qual Hoi An emergiu como um ponto central no Sudeste Asiático, atraindo comerciantes de todo o mundo, nomeadamente da China e do Japão. Os comerciantes traziam, então, consigo lanternas para adornar as suas casas, simbolizando a prosperidade e a boa vontade. Com o tempo, os habitantes locais adoptaram esta tradição, adornando também as próprias moradas com lanternas para invocar todo o tipo de bênçãos.
Santuário de My Son
Reconhecido como Património Mundial em 1999 pela UNESCO, My Son constitui um conjunto de templos hindus abandonados e parcialmente arruinados no centro do Vietname construídos entre os séculos IV e XIV pelos Reis de Champa, um reino indianizado do povo Cham. Os templos são dedicados à veneração de Deus de acordo com o shaivismo, em que deus é chamado Shiva, ou O Auspicioso. Neste complexo em particular Shiva surge venerado sob vários nomes locais, o mais importante dos quais Bhadreshvara. Localizado nas imediações da aldeia de Duy Phú, no distrito administrativo de Duy Xuyen, na província de Quang Nam, no Vietname Central, e a 69 quilómetros a sudoeste de Da Nang e a cerca de 10 da histórica capital de Champa, Trà Kieu My Son, o complexo situa-se num vale com cerca de dois quilómetros de largura e cercado por duas cadeias de montanhas.
Do século IV ao século XIV d.C., o vale de My Son foi local de cerimónias religiosas dos reis das dinastias governantes de Champa, bem como um local de sepultura para a realeza cham e para os heróis nacionais, estando intimamente associado às cidades vizinhas de Indrapura e Simhapura. Chegou a contar com mais de 70 templos, bem como numerosas estelas com inscrições historicamente importantes em sânscrito e cham. Tratar-se-á eventualmente do sítio arqueológico habitado há mais tempo no Sudeste Asiático Continental, mas a grande maioria da sua arquitetura foi destruída por bombardeamentos norte-americanos durante uma única semana aquando da Guerra do Vietname. É considerado um dos principais complexos de templos Shaiva hindu do Sudeste Asiático e constitui o principal património desta natureza no Vietname. É frequentemente comparado com outros complexos de templos históricos do Sudeste Asiático, como Borobudur, em Java, na Indonésia; Angkor Wat, no Camboja; Vat Phou, no Laos; Bagan, no Myanmar e Prasat Hin Phimai, na Tailândia.