Casas na Areia, Cabanas no Rio,
Casa no Tempo, Santa Clara 1728 e Casa na Terra
Projecto verdadeiramente revolucionário na área do turismo, o Silent Living anuncia a profunda transformação que o tempo trouxe à arte de receber. Junto de João Rodrigues, a Travel & Safaris procurou saber mais
A conversa nasce suavemente, como se seguisse as linhas arquitectónicas que caracterizam todos os espaços do Silent Living num acorde comum à harmonia que cada um dos projectos transpira e ao conceito que os sustenta.
Começamos por debater a ideia de hospitalidade, que João Rodrigues faz questão de chamar ao centro do Silent Living. “Devemos sempre lembrar-nos deste conceito, que tem origem na palavra hospital. Hospitalidade significa saber cuidar das pessoas. Elas chegam até nós numa determinada condição e o que fazemos é esforçar-nos ao máximo para que ao saírem dos nossos espaços o façam em muito melhores condições; ou seja, mais descansadas, mais inspiradas, mais alegres, mais felizes, mais descontraídas. Acredito que a arte de receber se baseia em três pilares muito importantes: o telhado, símbolo de protecção, que proporciona um sentimento de acolhimento e que cria condições para que nos despojemos das nossas barreiras. Costumamos receber os nossos convidados integrando-os, passeando com eles por toda a casa, o que de resto é muito português, somos um povo muito acolhedor. Há que saber fazer tudo isto como deve ser. Para suscitarmos este sentimento de acolhimento e de refúgio precisamos de uma boa arquitectura, de uma boa localização, de uma boa vista e de bons materiais de construção.” O segundo pilar será a cama, “onde recuperamos do cansaço físico. Trata-se de um lugar importante, temos de ter espaço para que a cama respire. Os hóspedes terão de dispor da possibilidade de, ao recolher-se, interromperem qualquer acesso da luz ao quarto, há que ter em conta e saber valorizar pequenos detalhes como os lençóis, o cheiro, a luz, a fragância da cama…” O terceiro pilar será obviamente a comida, “que aquece a alma. Penso que a arte de receber bem tem de assentar nestes três pilares, na protecção que sentimos guardados atrás da porta de um quarto, no descanso do corpo e no convívio que nos enche a alma. Todos estes detalhes têm de ser muito bem desenvolvidos, o que só se consegue através de um enorme amor e de enorme carinho a que recorremos quando acolhemos quem chega.” A preocupação com os pequenos detalhes, que João considera fundamental, é algo que marca a principal diferença relativamente aos grandes hotéis. São inclusivamente estes aspectos que estarão na origem do seu despertar para esta área de negócio e na descoberta de uma faceta que na realidade desconhecia. “Fazia e faço muitos voos e ao ter de ficar alojado em hotéis apercebi-me que tinha imensa vontade de criar algo diferente, algo que fosse individualmente customizado”, como por exemplo procurar conhecer os interesses dos hóspedes de modo a recebê-los de um modo diferenciado. “Não estarei a exagerar se lhe disser que chegamos a trocar cerca de 30 emails com os nossos convidados ainda antes de chegarem para podermos proporcionar-lhes experiências únicas. Se, por exemplo, ficarem no Santa Clara 1728 e nos derem a entender que apreciam cerâmica, proporcionamos uma visita a ateliers de artistas localizados em Xabregas ou organizamos uma ida ao museu do Azulejo. No fundo agimos como se estivéssemos a receber amigos de longa data ou um elemento da família que não víamos há muito tempo e a quem queremos mesmo mostrar o melhor de Portugal.”
Silent Living
O conceito nasceu muito naturalmente. “Chegámos a uma certa altura em que já tínhamos algumas propriedades em pleno funcionamento e tornou-se necessário fazê-lo. Recordo-me que nos sentámos à mesa a debater este assunto e decidimos que não seríamos nós a escolher. Concluímos que a melhor ideia seria ficarmos muito sossegados e simplesmente ouvirmos o que diziam os nossos convidados. Sempre que chegava alguém novo fazia um comentário acerca das casas. Referia-se muito a paz, a calma, o silêncio, o sentido de família. Passámos oito meses a anotar essas palavras sem dizermos nada a ninguém. Tínhamos uma parede cheia de post its no escritório, cada um com a sua palavra. No final havia uma que predominava claramente: Silêncio. Nas nossas casas ouvia-se o silêncio. Optámos por Silent Living. Não inventámos nada, limitámo-nos a colher dos nossos hóspedes aquilo que diziam sentir. Silent Living nasceu, então, como o espelho de uma forma de estarmos, de vivermos e de sentirmos que deriva de uma grande dedicação, do querer fazer bem, de nos dedicarmos a criar um enorme amor que é, nada mais, nada menos, do que a vida. Acontece quando passamos muitas noites, muitos dias dedicados. O amor tem a ver com esta dedicação.” E o resultado de toda esta entrega, de todo este amor começa, nesta área de negócio, a assumir-se como um novo conceito de luxo. “Acho que a ideia de luxo está muito estereotipada. Há muitas pessoas que quando pensam em luxo imaginam logo cristais, carpetes coloridas e assim por diante, mas isto está a ficar muito ultrapassado. As pessoas procuram cada vez mais a simplicidade, o requinte, aquilo que é quase invisível. A vanguarda dos hóspedes e dos convidados procura cada vez mais a ligação à terra, ao planeta… há uma fruição que se renova e que surge muito mais ligada à Natureza.”