O Festival de Balão no Alto Alentejo conta com a 19ª edição e é já uma referência a nível internacional. Apanhamos boleia num cesto de uma das 35 equipas e fomos conhecer a zona de Alter do Chão vista de cima. Rendemo-nos à paisagem, apreciamos as cores e a vegetação e contemplamos alguns animais em fuga. É uma manhã diferente onde o sol de Outono nos presenteia com o tempo perfeito para uma experiência única.
Texto Rita Rufino Fotos Vasco Casquilho
Ainda o sol está a nascer e já dezenas de pessoas se concentram na zona industrial de Alter do Chão, no distrito de Portalegre. Chegam de todo o país com a esperança de apanhar uma boleia para aquela que pode vir a ser a maior aventura das suas vidas. Na bagagem trazem câmaras de filmar, máquinas fotográficas, agasalhos e alguns sorrisos tímidos. Chegam com a expectativa de um amanhecer diferente e com a esperança de viver uma experiência que ficará gravada na memória de cada um dos participantes.
Somos convidados a subir num dos cestos das 35 equipas, sete delas portuguesas, que participam no 19º Festival Internacional Rubis Gás Balões de Ar Quente, o festival mais antigo e prestigiado do país, organizado pela Publibalão, em cooperação com o Alentejo Sem Fronteiras – Clube de Balonismo. A boa disposição e camaradagem entre as equipas é evidente logo após o primeiro contacto com os participantes, oriundos de sete países: Portugal, Espanha, França, Bélgica, Reino Unido, Holanda e Alemanha. Os pilotos internacionais apreciam toda a envolvência do evento, desde a gastronomia às paisagens, passando pelas pessoas: “Bom vinho, boa comida e condições excelentes para voar”, melhor é quase impossível. De acordo com Aníbal Soares, piloto profissional e organizador do evento, o Festival de Balão no Alto Alentejo já “faz parte do calendário dos pilotos internacionais”. Há pilotos que participam desde a 2ª edição deixando sempre em aberto a garantia da sua presença no próximo festival, “antes de partirem já me estão a pedir para os convidar para o próximo ano”, salienta Aníbal Soares com um sorriso nos lábios e um orgulho que lhe enche o peito.
Aceitamos o desafio da Publibalão e embarcamos nesta viagem. A organização assegura-nos que “o tempo está a ajudar”, não percebemos se com o intuito de nos tranquilizar ou se estas são mesmo as melhores condições para voar de balão. Sabemos apenas que apesar de serem 6h30 da manhã, o Outono deu lugar a um lindo dia de Primavera: pouco vento e uma temperatura amena.
A nossa equipa chega de Espanha e é composta por quatro membros: dois homens e duas mulheres. Percebemos de imediato que voar de balão é para eles tão natural como para nós andar de carro. A cumplicidade na troca de olhares enquanto trabalham e a destreza com que se movimentam deixam-nos mais tranquilos. “Estão em boas mãos” tranquiliza-nos Mafalda Soares, um dos membros da organização.
A rapidez com que tudo acontece deixa-nos confortáveis e sem espaço para medos ou pensamentos negativos. Em campo aberto, as 17 equipas começam a preparar-se para mais um voo. Em pouco mais de 15 minutos, o nosso balão é retirado de um reboque e começa a tomar forma através do fogo do queimador. Começam-se a ouvir os primeiros clicks das máquinas fotográficas. Ainda estamos em terra e a beleza da mistura de cores transporta-nos para uma tela onde os tons vivos do balão se misturam com os tons esbatidos do fogo e da natureza que nos envolve. O segundo passo é saltarmos para dentro de um cesto de verga de reduzidas dimensões mas que segundo o piloto “cabem perfeitamente quatro pessoas” e ainda três botijas de gás.
O levantar é tranquilo, assim como toda a viagem. Em poucos minutos estamos a sobrevoar o Alto Alentejo. É sem dúvida uma experiência maravilhosa. Somos envolvidos por uma sensação única de paz e tranquilidade. O silêncio é gritante, apenas interrompido pelo som do queimador. A paisagem corta-nos a respiração e obriga-nos a engolir as poucas palavras que se esforçam por sair. São quilómetros de natureza que se estendem pelas planícies repletas dos mais variados tons de verde, laranja e castanho. O nosso olhar perde-se no horizonte. Através dele, imaginamos o cenário perfeito: o chão coberto de musgo ou mesmo uma alcatifa de veludo verde, onde se distinguem algumas árvores típicas da região, como as oliveiras, as vinhas e as laranjeiras. De quando em quando vislumbramos grupos de vacas e ovelhas a correr pelos campos fora assustados pelo som do queimador.
O vento está quase perfeito, o que permite aos pilotos navegar pelos céus do Alentejo. Ao olharmos em volta apreciamos a beleza das cores vivas dos balões que preenchem o azul do céu. Ao longe avistamos as casas caiadas de pequenas aldeias e vilas. Conseguimos distinguir Fronteira, Seda, Cunheira, Avis e mais à frente Ponte de Sor. O balão faz movimentos de rotação, sobe ou desce consoante a vontade do piloto.
Na estrada, acompanha-nos a equipa de resgate constituída pelos outros dois membros. Explicam-nos que a comunicação é fundamental e é feita por intercomunicadores. Enquanto nós sobrevoamos o Alentejo, a equipa de resgate vai dando indicações pertinentes sobre o caminho a percorrer. Por fim chegam a acordo. Avistamos um campo com poucas árvores que à primeira vista tem todas as condições para a aterragem. O piloto começa a fazer as manobras: vai puxando as cordas e diminuindo o calor do queimador. Quando estamos mesmo perto do chão pede para nos baixarmos e o incrível acontece. O cesto vira-se com o embate no chão e percebemos que temos ao nosso redor um grupo de vacas com os olhos postos em nós. Salva-nos a rapidez de pensamento do piloto que reacende o queimador para que os animais se assustem e desapareçam. Agora sim, podemos sair em total segurança.