Uma viagem ao passado, em pleno coração do Alto Minho, numa vila que tem o rio Lima como sua companhia. As suas tradições, lendas, feiras, festas e romarias, a boa gastronomia, o afamado vinho verde, as belíssimas paisagens e as suas gentes hospitaleiras, as praias fluviais fazem deste lugar um local encantador.
Texto: Manuela Silva Dias Fotos: Camara de Ponte da Barca e Manuela Silva Dias
Ponte da Barca, pertence ao distrito de Viana do Castelo e situa-se na margem esquerda do bucólico rio Lima. A ocupação desta área remonta à pré-história, são vários os vestígios arqueológicos existentes e muitos os monumentos megalíticos e castros.
O nome da vila, vem das ligações que se faziam com uma “barca”, que ligava as duas margens do rio Lima, levando por vezes a bordo peregrinos a caminho de Santiago de Compostela. No ano 1450, aquando a construção da ponte, a vila fica com o nome São João de Ponte da Barca.
No centro história, começa a viagem pelo passado através das ruas e ruelas estreitas e do seu valioso património. Uma vila com várias construções apalaçadas, casas brasonadas dos séculos XVI e XVII e capelas. Por entre casas de granito encontra-se a Igreja Matriz, dedicada a São João Baptista e a velha praça do mercado onde está implantado o pelourinho manuelino. Com uma fachada rococó, muito bem conservada encontramos a Igreja da Misericórdia, um pouco mais à frente os Paços do Concelho e o antigo mercado. A mais emblemático é a ponte medieval, classificada como Monumento Nacional, construída durante a regência de D. Pedro, no início do século XV. Constituída por oito arcadas originais assentes em pilares, liga Ponte da Barca a Arcos de Valdevez e é ainda mais exuberante, na hora que o sol a faz reflectir sob o rio. Uma união perfeita entre a ponte e o rio num quadro que se dá vontade de emoldurar.
Na pitoresca aldeia de Lindoso (a 25 Km de Ponte da Barca), encontramos o Castelo de Lindoso, construído no reinado de D. Afonso III. Numa posição dominante sobre a aldeia, o castelo, teve um papel importante na defesa da fronteira portuguesa contra os invasores espanhóis. No castelo pode visitar o museu que possui a Sala de Armas da Torre, com uma colecção de armas que vão desde o século XIV até ao século XIX, bem como uma colecção de arqueologia do território do Lindoso, da pré-história aos nossos dias.
Junto ao castelo, encontramos o maior conjunto de espigueiros de Portugal, são ao todo 67 exemplares do século XVIII, classificado como Imóvel de Interesse Público. Estavam sempre nas eiras comunitárias, construídas em granito e era onde as comunidades guardavam as espigas de milho protegendo-as das tempestades. Serviam também para a sua secagem através do ar que entrava nas pequenas fendas paralelas. Para protecção divina, tinham normalmente uma cruz no seu topo.
Ainda no Lindoso, existe a barragem hidroeléctrica do Alto Lindoso que é ainda o mais potente fornecedor da rede nacional. Em funcionamento desde 1992, que além de produzir energia, assume uma função reguladora, evitando variações bruscas no caudal do rio. Pode visitar a casa das máquinas que está situada a 3240 metros de profundidade e que já foi palco de vários eventos.
Natureza em estado puro
Além do seu importante património histórico, o concelho barquense tem na natureza um verdadeiro aliado. Uma riqueza inexplorada que reside nas suas belezas naturais, com paisagens de absoluto encanto. Paisagens essas que se inserem no parque Nacional Peneda-Gerês que se estende por mais de 69 mil hectares, uma área protegia, que é um mundo por si só. Ponte da Barca tem sabido aproveitar o privilégio que a natureza lhe concebeu para colocar o homem em contacto com este refúgio. Existe uma grande oferta de actividades ao ar livre, para pessoas de todas as idades. Desportos náuticos como o jet-ski, a vela, o remo, o rafting, a canoagem entre outros. Descer o rio Lima de kayak (www. planetalima.com), é uma experiência a não perder. O percurso é feito em águas tranquilas com algumas passagens por rápidos, onde a adrenalina dispara e o medo se mistura, mas com a ajuda dos instrutores, o que parece impossível, rápido torna-se fácil ! A beleza da paisagem sempre na margem do rio é completamente deslumbrante. Natureza em estado puro!
Como forma de sensibilizar a população para a preservação da natureza e seus habitats e fomentar o ecoturismo, foram criados os “Caminhos do Lima” e “Guarda-Rios”. Criaram-se trilhos à beira-rio, Ecovia do rio Lima e ciclovias que fazem a interligação dos segmentos desta infra-estrutura ciclopedonal. Actualmente existem cinco percursos que se estendem pelas margens de Viana do Castelo, Ponte de Lima, Ponte da Barca e Arcos de Valdevez.
Depois de descermos o rio de Kayak, regressámos pelo percurso pedestre da Ecovia de Ponte da Barca, um programa a não perder. Foram “X” quilómetros, de pura comunhão com a natureza e muita paz. Aconselho vivamente a descoberta destas caminhadas, um bem para a saúde e para a alma.
Festas e Romarias
A Romaria de S. Bartolomeu que se realiza todos os anos entre 19 e 24 de Agosto é a mais importante. São seis dias intensos, onde os barquenses se misturam com os inúmeros turistas e lhes mostram a suas tradições, a gastronomia, a feira das tasquinhas e do artesanato, a feira do Linho, os jogos tradicionais, o folclore, as cantigas ao desafio, as concertinas e os bombos. Receita para uns dias passados em verdadeira folia. No dia 23, o momento alto da romaria, o desfile e actuação das Rusgas pelas ruas da Vila, vai pela noite dentro. Todos são convidados a participar, canta-se à desgarrada, (uma forma genuína de improvisação), toca-se concertinas, bombos, fazem-se rodas, dança-se e acima de tudo vêem-se sorrisos… muitos, de gente nova, gente velha, todos partilham a mesma magia. A alegria é contagiante e dura até o dia nascer! Obrigatório conhecer e participar.
No Carnaval, também festejam o “Pai Velho” e na altura da Páscoa, a “Mui Dolorosa Paixão de Cristo”. Com pano de fundo o Calvário, a encenação acontece em vários palcos espalhados pela vila. Participam mais de quatro dezenas de actores amadores, 60 figurantes e três gerações. Um guarda- roupa irrepreensível alimenta esta tradição.
Em finais de Setembro existe uma recriação da desfolhada minhota. Cortam-se as canas do milho, que num carro de bois são transportadas para a eira. As espigas são colocadas em cestos de verga que depois de cheios são colocados no espigueiro. Quando se desfolha e se encontra o milho-rei (a espiga vermelha) deve-se dar um abraço a todas as pessoas presentes. Antigamente os jovens sempre que encontravam o milho rei, tinham permissão para dar um beijo à namorada. A desfolhada termina sempre, numa grande festa pela noite dentro, ao som das concertinas e de muita alegria e todos são convidados a participar.
As feiras também fazem parte da vila. Quinzenalmente às quartas-feiras existe a feira de Ponte da Barca (nas outras quartas feiras realiza-se em Arcos de Valdevez). Uma feira que se reparte em três lugares da vila, com zonas especializadas em determinados produtos. As frutas, legumes, mel é tudo biológico e com cheirinho de outros tempos.
Desde 2008 que surgiu um festival diferente, o “Festival Folk Celta”, um evento que pretende divulgar o património cultural e tradicional do concelho que tem grandes ligações à cultura celta. Além da fantástica comunhão entre a sonoridade e a natureza, num misto tradicional e místico, existe uma Feira Alternativa , com artesanato, refeições vegetarianas, massagens terapêuticas, yoga, danças orientais e do mundo. Este ano realiza-se nos dias 24 e 25 de Julho.
Gastronomia
Na sua mesa, Ponte da Barca, tem uma variedade rica de iguarias que o vão deixar de água na boca. Desde as papas de Sarrabulho, rojões à moda do Minho, cozido à Portuguesa, cabrito da Serra Amarela, truta; lampreia e o sável frito, tudo bem acompanhado em malgas de vinho verde. Para sobremesas os mais típicos são as rabanadas de mel, as queijadas de laranja, o bolo branco, o leite-creme queimado e os Magalhães (em homenagem ao navegador Fernão Magalhães), tudo delicioso! Durante o ano, existem vários fins-de-semana gastronómicos. Pode deliciar todos estes pratos no restaurante “O Moinho”, um antigo moinho situado à beira rio, com uma decoração rústica.
Onde ficar
Para repousar o corpo e alma depois de tantas descobertas, nada como ficar alojado na Casa D´Auleira, um turismo de habitação em Grovelas, nas encostas da Serra do Oural, rodeada de culturas de vinha, pequenas hortas e uma panorâmica de uma beleza rara. Tem sala de jogos, uma piscina exterior, local para fazer churrascos no terraço, caminhadas pelas vinhas, possibilidade de ir pescar ao rio e de ter sempre água fresca na fonte, a qualquer hora do dia. A juntar a tudo isto a simpatia dos donos vão fazê-lo sentir como se estivesse na sua casa.
Para saber mais informações quando visitar esta vila, encontra no centro de Ponte da Barca, uma Loja Interactiva de Turismo, com todos os locais a visitar e a agenda de eventos.
Não há como não se enamorar por Ponte da Barca! Pela sua vida, pelas pessoas, pelas tradições, romarias e pela esplendorosa natureza. Fica no Minho e está tudo dito.