Imagine um cenário dos sonhos, com frescos requintados, pintados à mão no tecto, piso de mármore travertino brilhante, colunas de mármore, luminárias de vidro sofisticadas, móveis de mogno esculpido e jardins estonteantes. Agora imagine tudo isso na sombra de uma torre que poderia ser a de “la Giralda” em Sevilha e uma piscina rodeada de estátuas e colunas. E fica a pergunta: é um castelo espanhol ou um palácio veneziano? Mas imagine ainda que alguém, a partir de uma prancha, fazia saltos acrobáticos para as águas dessa piscina e que esse alguém era Tarzan. Ficção? Não, é o Biltmore Hotel em Miami.
Fotos: Reno Maurício e Hotel Biltmore
Embora o Biltmore em Coral Gables se pareça com a clássica arquitectura mediterrânea, não é nem um palácio italiano e nem um castelo ibérico. É sim o fruto da imaginação e extravagância de George Merrick, construtor e comissário do distrito de Coral Gables na Florida, que devido a Merrick se tornou num dos mais elegantes de Miami, tendo sido mesmo baptizada por “The City Beatiful”.
De facto, Merrick conseguiu, pela sua criatividade e visão, combinar as paisagens exuberantes do Sul da Flórida com as influências das arquitecturas italianas, árabes e espanholas, concretizando o seu sonho com a construção de uma verdadeira obra-prima, o Biltmore Hotel.
Um sonho que começou a tornar-se realidade em 1924, que não só serviria para hospedar aqueles que fossem a Coral Gables, mas que também se tornaria num centro de desportos, da moda e de encontros da alta sociedade americana e mundial. Um sonho com 400 quartos, um country club, um edifício de serviços, um campo de golfe com 18 buracos projectado pelo arquitecto de campos de golfe Donald Ross, que começou a funcionar em 1925, campo de pólo, campos de ténis e uma piscina de 50 metros, que continua a ser a maior piscina de um hotel nos Estados Unidos
E a inauguração desse sonho aconteceu a 14 de Janeiro de 1926, uma cerimónia que dizem as crónicas ter sido esplendorosa e o evento social do ano na cidade, com os convidados a chegarem em comboios onde estava escrito: “VIP’s do Biltmore de Miami”.
Enquanto o champanhe fluía entre os 1500 convidados que participavam no jantar dançante, ao som de três orquestras, uma delas liderada pelo famoso Paul Whiteman, a Giralda Tower do Biltmore foi iluminada pela primeira vez e podia ser vista a quilómetros de distância.
Um marco na história do Sul da Flórida havia começado, tornando-se num ícone de um período conhecido por Era do Jazz, um período que iria até 1942.
E desde logo se transformou num dos resorts mais elegantes de todo os Estados Unidos, tendo hospedado no seu auge a realeza europeia e muitos artistas de Hollywood, como o duque e a duquesa de Windsor, Ginger Rogers, Judy Garland e Bing Crosby, famosos políticos como o presidente Franklin D. Roosevelt e notórios gangsteres como Al Capone. E aqui assistiam a desfiles de moda, bailes de gala, shows aquáticos nos 2.137 metros quadrados de piscina, casamentos elegantíssimos e torneios de golfe de classe mundial.
Com a Era do Jazz, as grandes bandas do Biltmore divertiam os ricos viajantes que iam a esse resort da riviera americana. Enfrentando os desafios das calmarias económicas na América do Norte no final dos anos 20 e no início dos anos 30, o Biltmore prosperou com seus eventos de gala aquáticos que atraíam multidões e que fizeram com que o hotel continuasse sendo um centro das atenções.
Cerca de 3.000 espectadores assistiam todos os domingos aos espectáculos de mergulho sincronizado, aos banhos de beleza, aos shows de lutadores de jacarés e à performance de um menino prodígio de quatro anos de idade, Jackie Ott, que mergulhava na imensa piscina do hotel de um trampolim com 26 metros de altura, Johnny Weissmuller. Sim, Tarzan!
Sim, este era o mundo de Tarzan antes de o ser em Hollywood, tendo sido aqui e durante muitos anos professor de natação, batendo recordes mundiais na piscina do Biltmore. Numa época em que os shows aquáticos eram extremamente populares entre as famílias da alta sociedade americana que, depois dos shows, vestiam-se para participar de um chá dançante no grande terraço do Biltmore.
Mas chegou a II Grande Guerra Mundial e com ela o departamento de guerra norte-americana converteu o Biltmore num grande hospital, para o qual deram o nome de Army Air Forces Regional Hospital.
Para adaptar o prédio para o seu novo uso, o exército fechou muitas janelas com cimento e cobriu os pisos de mármore travertino com camadas de linóleo fornecido pelo governo.
Além de ser as primeiras instalações da Escola de Medicina da University of Miami, o Biltmore continuou sendo um hospital de administração de veteranos até 1968.
Mas as pressões eram muitas para que o Biltmore regressasse ao que tinha sido, um hotel de charme e um ícone da hotelaria não só da Florida mas também dos Estados Unidos.
Após intensa pressão dos oficiais e residentes da cidade de Coral Gables para adquirir o Biltmore, em 1973 a posse do hotel foi concedida para a cidade de Coral Gables através dos programas Historic Monument Act e Legacy of Parks. Mas a cidade continuou indecisa quanto ao futuro da estrutura e o Biltmore permaneceu desocupado por quase 10 anos.
Finalmente em 1983, a cidade iniciou uma restauração total para que o Biltmore voltasse aos seus dias de glória. Cerca de quatro anos e 55 milhões de dólares depois, o Biltmore reabriu em 31 de Dezembro de 1987 como um resort e hotel de quatro estrelas e mais de 600 hóspedes homenagearam o histórico Biltmore num evento black-tie.
A torre de mergulho de 26 metros foi transformada numa cascata tropical e várias cabanas privativas foram construídas à beira da piscina. Os milhares de litros de água da piscina foram esvaziados e a piscina foi completamente coberta de mármore polido.
Era a confirmação do que tinha sido dito no Miami Biltmore Country Club por Frank Crane, “Muitas pessoas virão e irão partirão, mas esta estrutura permanecerá na sua beleza duradoura”.
E previsão de Dr. Crane tornou-se efectiva e “lei” quando em 1996 o Registo Nacional de Lugares Históricos atribuiu ao Biltmore o título de marco histórico nacional, um título de elite oferecido a apenas 3% de todas as estruturas históricas.
Mas até aqui, o Biltmore viveu outros momentos marcantes. Após a reabertura em 1987 fechou novamente em 1990, no meio da crise económica vivida nos Estados Unidos, até que em Junho de 1992 um consórcio multinacional liderado pela Seaway Hotels Corporation, uma empresa que gere diversos hotéis da Flórida, tornou-se proprietária e operadora do Biltmore.
A Seaway investiu num programa de 40 milhões de dólares e 10 anos de reforma, restabelecendo o Biltmore à sua excelência de classe mundial. A empresa investiu na renovação completa dos quartos e também construiu um centro de fitness e um spa, instalou novasiluminações e novos sistemas de telefones e computadores, e a cidade de Coral Gables gastou aproximadamente 3 milhões de dólares para restaurar o histórico campo de golfe com 18 buracos.
Noventa e um anos passados desde a sua inauguração, Biltmore contínua a ser sinónimo de “glamour do velho mundo e conforto inegualável”, oferecendo 275 quartos, incluindo 130 suítes, todos com vista para a piscina ou para o campo de golfe e vários restaurantes de excelência. Como o Palme d’Or, que traz o sabor da França a Coral Gables, classificado como o melhor restaurante francês pelo Guia Zagat Florida, ou o restaurante e bar clássico 19th Hole, podendo desfrutar do seu pequeno-almoço e jantar num amplo terraço com vista panorâmica para o campo de golfe.
Também o Cascade Grill, com vista para a famosa piscina do Biltmore, é outra opção, oferecendo French Caribbean e Spa Cuisine, não faltando uma variedade de bares, como o Boules Bar, que fica numa galeria em queda de água sob a cascata, o Fontana, onde acontece um dos melhores e mais célebres brunches do país, sempre acompanhado por uma mescla do toque europeu, da exuberância latina e do estilo tropical de Miami.
E num mundo em que o estilo de vida moderno precisa mais do que nunca de bem-estar e equilíbrio, o Biltmore oferece um verdadeiro santuário de paz e tranquilidade, quer para quem procura algum tipo de tratamento ou simplesmente precise de mimos num ambiente intemporal e histórico.