A partir da janela de um comboio, descobre-se um mundo de fascínio. Percorrem-se paisagens e caminhos a uma velocidade que parece convidar a sair da carruagem panorâmica e abraçar todo um cenário deslumbrante ao mesmo tempo que vai oferecendo doces e nostálgicos momentos, preenchendo os sentidos e tornando reais sonhos de Verão e contos de Inverno. São as paisagens dos fiordes noruegueses que a partir do Flam Railway ganham outro encanto.
Fotos: Turismo da Noruega
A partir da janela do comboio assiste-se a instantâneos deslumbrantes feitos de paisagens intermitentes entre penhascos íngremes e rochosos, profundos fiordes azuis, extensos prados verdejantes e montanhas cobertas de neve, enquanto casas de madeira pintadas de vermelho e branco criam um ambiente ordenadamente colorido e vivo.
Por todas estas razões este percurso é considerado como um dos mais espectaculares percursos ferroviários, um percurso que faz parte da linha regular entre Bergen e Myrdal, e que em outros países seria apenas uma rota de um comboio panorâmico e turístico. Mas aqui não!
A Flam Railway iniciou a ser desenhada em 1920 mas, com os enormes desafios de engenharia colocados na construção de uma linha sobre uma inclinação tão íngreme, apenas foi concluída até 1940.
Diariamente, cerca de 200 homens trabalhavam ao mesmo tempo para colocar e dar continuidade à linha, tendo sido criadas ao longo da mesma 10 estações de apoio, abriram-se 20 túneis e uma ponte foi construída, levando a que cada homem necessitasse de 150 horas para abrir um metro de túnel. E a linha só tem 20 quilómetros de comprimento, indo do nível do mar, em Falm, aos 863 metros em Myrdal.
No início, foi usado principalmente para transporte de mercadorias, mas quando se passou a encontrar outras formas para esse tipo de transporte, transformou-se numa das principais atracções turísticas da Noruega com cerca de 600.000 visitantes por ano.
Depois de deixar Bergen, e começando no ponto mais alto, em Myrdal, e muitas vezes com o branco da neve como testemunha, contrastando com a madeira pintada de verde-escuro das carruagens com pormenores dourados, dando uma sensação Vintage, inicia-se a viagem. Uma viagem que poderá compreender ao olhar para um painel no final da carruagem que lhe diz por onde está a passar e o que está a ver, assim como conta a história da linha, metro a metro.
E por muito que já tenha lido sobre como esta linha tinha sido construída, só mesmo quando subir para uma das carruagens e iniciar a viagem é que entenderá a incrível façanha que foi construi-la, a incrível obra de engenharia que está perante os seus olhos.
É que esta linha ziquezagueia e desce um metro de altura por cada 18 metros de viagem. E montar os carris não foi o único desafio. É que os penhascos rochosos e desfiladeiros do rio não ajudavam. E os engenheiros tiveram que redireccionar o rio através de túneis e furar montanhas. E tudo planeado em papel, num ambiente onde os deslizamentos poderiam facilmente acabar com semanas de árduo trabalho.
O início do percurso atravessa uma floresta de neve, pontilhada com casas de madeira vermelhas e amarelas.Ele passa pelo lago montanha Reinungvatnet que, na altura em que fizemos esta viagem, em Maio, estava num processo de descongelamento-.
A linha, em seguida, começa a descer abruptamente e desaparece no primeiro dos muitos túneis antes de parar na queda de água de Kjosfossen. A queda de água cai a mais de 90 metros de altura e de acordo com folclore escandinavo é o lar de criaturas míticas chamadas Huldra. Belas mulheres sirene que enfeitiçam os homens que passam com a sua música, atraindo-os para a floresta.
E pelas janelas, depois de passar mais um túnel, avista-se um grande vale e a sinuosa Rallarvegen. Um nome que pode ser traduzido por “estrada das naves”, tendo sido originalmente construída como uma estrada de acesso para as obras da linha ferroviária. Hoje ela é usada como uma pista de mountain bike com 21 voltas e reviravoltas, e sempre a descer. Aqui já a neve tinha desaparecido completamente, sendo substituída por campos verdes e cascatas cheias de água do degelo.
Em Breikvam, a linha divide-se em duas para que os comboios que viajam em direcções opostas possam passar uns aos outros.Em seguida, no final da viagem, a paisagem suaviza e um verdejante vale abre-se.Olhando para baixo, a Flam mais antiga parece uma aldeia modelo, com casas em miniatura e uma pequena igreja de madeira na beira do rio.A parte mais recente de Flam fica mais a jusante, ao longo das margens do Sognefjord.
Este é o fim da linha da Flam Railway, onde os passageiros descem. E quase sempre ligeiramente aturdidos pela paisagem. Mas também pelo constante correr de um lado para o outro dentro das carruagens de forma a não se perder nada nesta fantástica viagem de comboio pelos fiordes da Noruega.