Uma das páginas mais tristes e sombrias da história dos povos indígenas nos Estados Unidos da América
Marcando um período de profundo sofrimento e injustiça durante a expansão territorial do país no século XIX, o Caminho das Lágrimas representa um episódio que decorreu entre 1838 e 1839, caracterizando-se pela remoção forçada das tribos Cherokee, Chickasaw, Choctaw, Creek e Seminole das suas terras ancestrais para territórios situados a oeste do Rio Mississippi. O chamado “Território Indígena” (no fundo uma reserva) que lhes estaria destinado (e do qual parte também lhes foi mais tarde retirado), consistia na parte central dos Estados Unidos que incluía o actual estado do Oklahoma.
Impregnado pelo expansionismo territorial e pela crença no Destino Manifesto, que proclamava a expansão dos EUA de costa a costa, o cenário político e social da época conjugou-se de modo a permitir o surgimento da Lei da Remoção de Indígenas em 1830 e que seria assinada pelo presidente Andrew Jackson. Legitimava-se, assim, a retirada forçada das tribos indígenas com o objectivo de dar lugar à produção agrícola e ao assentamento de colonos brancos. Pelo facto de as suas terras serem mais desejadas por estes, especialmente dada a qualidade do solo para a agricultura, pela pressão exercida, em virtude de algumas destas tribos terem, entretanto, adoptado elementos da cultura euro-americana tentando adaptar-se aos padrões considerados “civilizados”, em virtude de pressões políticas e com a legitimação das leis de remoção, optou-se por avançar com a retirada das Cinco Tribos Civilizadas, tendo no entanto havido outras que também foram afetadas pela política de remoção. Estas destacam-se, contudo, não só pela ironia da utilização do termo “civilizadas” para as apelidar (o colonizador supostamente elevado e desenvolvido sentiu-se capaz de classificar algumas tribos como civilizadas por estas aceitarem alguns dos seus costumes e depois trata-as de modo selvático, expulsando-as de regiões que eram naturalmente suas, denunciando a própria mediocridade e inferioridade mental, cultural e de valores), como pelo modo devastador como foram afectadas.
As Cinco Tribos “Civilizadas”
Uma das tribos forçada à remoção das suas terras ancestrais foi a dos Cherokee, uma nação avançada, com governo escrito e uma sociedade agrícola bem organizada. John Ross, proeminente líder Cherokee e descendente de escoceses e Cherokee, desempenhou um papel crucial na resistência à remoção. Procurou soluções legais, desafiou a remoção nos tribunais e apesar de neles ter vencido alguns casos, a decisão final favoreceu a remoção. Ross viu-se, pois, obrigado a comandar o seu povo numa viagem absolutamente devastadora.
Famosos pelas suas capacidades de combate, os Chickasaw foram liderados por Levi Colbert, também conhecido como Itawamba durante o Caminho das Lágrimas. Como chefe, enfrentou o dilema de proteger o seu povo face a crescente pressão por parte de colonos brancos e do governo dos Estados Unidos. A remoção dos Chickasaw foi um processo difícil, marcado pela perda de terras e vidas.
Os Choctaw, uma das tribos mais afetadas por esta medida, foram liderados pelo Chefe Pushmataha – conhecido pela sua sabedoria e diplomacia. Foram os primeiros a ser removidos e experienciaram uma deslocação desastrosa que resultou numa significativa perda de vidas indígenas devido à falta de recursos e de apoio adequado.
Os Creek enfrentaram divisões internas durante o cumprimento do doloroso Caminho das Lágrimas, já que havia diversas facções com opiniões divergentes sobre a remoção, surgindo assim tensões internas e desafios políticos. Apesar da história de resistência que os distingue, os Creek tiveram que enfrentar a triste realidade da remoção forçada.
Famosos dada a sua obstinada resistência, os Seminole foram liderados por Osceola, que emergiu como figura de destaque durante a Segunda Guerra Seminole resistindo prolongadamente contra as forças americanas. Osceola foi capturado durante uma trégua e, portanto, sob a bandeira da paz, o que ilustra e simboliza a traição e a injustiça enfrentada pelos povos indígenas às mãos dos, supostamente “civilizados”, governantes americanos, que a nada se detiveram perante os próprios objectivos expansionistas.
O Caminho das Lágrimas
O nome Caminho das Lágrimas reflete a imensa tragédia e sofrimento que os povos indígenas enfrentaram durante esta deslocação forçada. A origem do termo é atribuída ao lamento e às lágrimas derramadas pelos indígenas enquanto eram deslocados das suas terras. A crueldade das condições ao longo do percurso, combinada com a perda de vidas e de tradições culturais, tornou-se um símbolo de uma das maiores injustiças na história dos Estados Unidos da América. As consequências humanitárias desta medida foram profundas. A falta de alimentos, de abrigo e de assistência médica resultou numa alta taxa de mortalidade entre os indígenas (no final das Guerras Indígenas nos EUA no final do século XIX, restavam menos de 238 mil indígenas, uma acentuada queda em relação aos estimados cinco a 15 milhões que viviam na América do Norte quando Colombo chegou em 1492). Além das perdas de vidas, as comunidades indígenas enfrentaram uma profunda quebra das suas tradições culturais, originando-se assim feridas que persistem até hoje. As comunidades indígenas continuam em busca de reconhecimento e de justiça para os traumas históricos que lhes foram infligidos, destacando-se a importância de informar o público acerca do um passado absolutamente incontornável cuja compreensão se revela essencial para promoção da justiça e da reconciliação entre os povos indígenas e a sociedade em geral.